sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A Nossa Divergência de Ideias

- Querido, você ultimamente anda falando muito alto.
- Se você quiser, eu posso abaixar.
- Seria ótimo, mas mesmo o seu baixo é alto para mim, tem de...
- Chegue mais perto, chegue mais perto...
- O que tem a ver?
- Você ainda não tá conseguindo enxergar?
- Não tente me distrair dessa discussão com sexo, eu acho isso deprimente!
- Muito deprimente...
- Por que você está agindo dessa forma, o que aconteceu com aquele cara tão companheiro que me ouvia e entendia?
- Ih, morreu!
- Chega de deboches, leve que seja uma única conversa à sério!
- Sério...
- Sabe, eu não posso desmerecê-lo, você é realmente sedutor. Mas não posso afirmar que hoje em dia eu me apaixonaria por você; eu era ingênua, muito jovem...
- Muito, muito jovem. Acho que uns dezessete anos.
- Como me arrependo agora... Sinto como se esses cinco anos estivessem me aprisionando. Deveria ter vivido muito mais!
- Com certeza, deveria ter vivido muito mais!
- Eu era muito imatura em idealizá-lo ao ponto de ter cedido a minha virgindade!
- É, nem mesmo deve ter aproveitado isso...
- Não, a noite foi muito boa, ma...
- Moça, será que a gente está falando do mesmo acidentado?

Prosa Intimista

    Eu estava determinado a não me manifestar, a ficar calado, a me manter indiferente, a fingir que algum momento estive indiferente. Ela sabia como me deixar inseguro, sabia como me fazer encenar atos de masculinidade - não que não fosse ou não me achasse másculo, mas não me sentia suficientemente homem para merecê-la.
    Tudo o que queria era voltar para casa com uma expressão normal, com um andar normal, com pensamentos casuais ou preocupações rotinais, sem me sentir abobalhado, sem que os outros olhassem para mim como se fossem contar a Ela todos os meus gestos desajeitados e como eu não era perfeito. Eu me esforçava, sonhava métodos, tateava fórmulas e expunha ideias para mim mesmo com o intuito de me formar.
    Mas Ela continuava exatamente igual ao que fora no dia anterior, eu não me sentia igual, eu não queria me sentir igual, eu tinha encontrado a solução ideal para mudar - mas continuava histérico com o medo do eu-passado se mostrar -, COMO ELA PODIA ESTAR EM PAZ CONSIGO MESMA SENDO QUE EXISTIA EM MIM O ANTÔNIMO DISTO?
    Eu desejava mais ser o que eu pensava que Ela queria de um homem do que algum possível dia desejei vir à vida. Não encontrava mais em mim um restício de originalidade, algo que até os influenciados possuem. Eu não era eu nem Ela, eu era um amor sem reciprocidade, eu era apenas dentes - nenhum sorriso -, eu não era o que eu pensava que Ela queria.
    Eu estava determinado a não me manifestar, a ficar calado, a me manter indiferente, a fingir que algum momento estive indiferente. Jamais contaria a Ela a verdade, mesmo não conseguindo saber se Ela já havia notado. Prometi a mim mesmo resgatar o que fui antes de conhecê-La, jurei a mim mesmo não demonstrar amá-La e nem mesmo escrever sobre isso.